quinta-feira, 12 de julho de 2007

A Opinião Pública NÃO EXISTE!

A utilização de pesquisas de opinião para legitimar a atuação da Mídia e influenciar a atuação do Estado, usurpando o Poder do Povo. Derrubando a premissa de que exista uma opinião média legitimadora do poder dos meios de comunicação de massa.

A OPINIÃO PÚBLICA NÃO EXISTE.

A mídia se arvora o título de “4º Poder”, que diz ser calcado no monopólio do acesso à opinião pública, erigida no novo fator de legitimação da política atual, como fator democrático e de participação popular. Completamente ao arrepio da Constituição se considera equiparada às instituições fundamentais do Estado. O que, na verdade, não tem consistência, como se irá demonstrar abaixo, mas está calcada na baixo nível educacional da população, que alheia a filosofia e a ética, não consegue perceber a manipulação que sofre por parte dessas empresas, que se utilizam das pesquisas de opinião na tentativa de legitimar seus interesses camuflados.
Em seu estado atual, a pesquisa de opinião é um instrumento de ação política; SUA FUNÇÃO MAIS IMPORTANTE CONSISTE TALVEZ EM IMPOR A ILUSÃO DE QUE EXISTE UMA OPINIÃO PÚBLICA QUE É A SOMA PURAMENTE ADITIVA DE OPINIÕES INDIVIDUAIS; em impor uma idéia de qu seria uma coisa assim como a MÉDIA DAS OPINIÕES, ou A OPINIÃO MÉDIA. A “opinião pública” que se manifesta nas primeiras páginas dos jornais sob a forma de percentagens (60% dos franceses são favoráveis...), esta opinião é um artefato puro e simples cuja função é dissimular que o estado de opinião em um dado momento do tempo é um sistema de forças, de tensões e que não há nada mais inadequado para representar o estado da opinião do que uma percentagem.
As pesquisas de opinião são utilizadas apenas para efeitos de manchetes jornalísticas, dirigidas a leigos e sem valor científico, criando a ILUSÃO DA EXISTÊNCIA DE UMA OPINIÃO MEDIANA, DE MODO A MOLDAR AS EXPECTATIVAS E OPINIÕES DOS INDECISOS. Este tipo de informação dissimula todo um discurso de legitimação política, de modo a consolidar relações de força e dominação sobre a população, pela mídia e seus parceiros políticos!
Ora, sabemos que todo exercício da força se acompanha de um discurso visando a legitimar a força de quem o exercer; podemos mesmo dizer que é próprio de toda relação de força só ter toda sua força na medida em que se dissimula como tal. Em suma, falando simplesmente, o homem político é aquele que diz: Deus está conosco. O equivalente atual de “Deus está conosco” é “A OPINIÃO PÚBLICA ESTÁ CONOSCO”. Tal é o efeito fundamental da pesquisa de opinião: CONSITTUIR A IDÉIA DE QUE EXISTE UMA OPINIÃO PÚBLICA UNÂNIME, portanto legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundamentam ou a tornam possível.
Assim, a MÍDIA, invocando ou não a opinião pública, faz supor, aos desavisados, que os integrantes do campo jornalístico detêm um poder muito maior do que há na realidade. A mídia se arvora o direito de dizer o que a população pensa e assim se propõe a atender esse “clamor” que afirma existir, buscando dessa forma, ao mesmo tempo, forçar ações e iludir para tentar para legitimar seu “Poder”. A mídia busca apenas legitimação pública que permita aumentar sua cotação comercial diante dos patrocinadores, ou seja, elevar seu preço do tempo ou do espaço ocupado em seus meios pelos compradores destes produtos, para aumentar seu lucro. Para isso, a mídia reforça a crença na existência de uma “opinião pública” sobre a qual detém monopólio.
Evidencia-se do exposto que a mídia tenta incutir na sociedade uma idéia falaciosa de democracia, segundo a qual todos podem ter uma opinião, e que todas as opiniões têm valor (essa premissa seria verdadeira se a população fosse esclarecida quanto ao que é democracia, e que existisse uma popularização desses conceitos, seus pressupostos e exigências). Tal tentativa se reflete na aceitação ou crença na ação da mídia e na participação da massa popular no processo político sem estabelecer nenhum critério. É preciso enfatizar que os cidadãos “medianos”, que o Estado democrático pressupõe, são pessoas que têm condições materiais mínimas como renda, educação etc. que lhes permitem uma vida relativamente estável, de modo que podem avaliar as informações sobre a situação da comunidade e do Estado e com base na análise delas formular uma opinião válida. Na verdade a mídia releva está premissa e supervaloriza o método de medição, através da metodologia estatística, na tentativa de encobrir a realidade. Na verdade o resultado das pesquisas, em especial para fins políticos, é muitas vezes predeterminado (quando não grosseiramente manipulado) pela redação das perguntas dos questionários, obtendo-se o resultado que interessa a quem encomendou a pesquisa. Tais pesquisas tentam reforçar a idéia da existência de uma “opinião pública”, opinião mediana, que na verdade não existe, mas permite engrossar as manchetes de jornais e as chamadas de rádio e TV.
Ora, não há a possibilidade de se trabalhar pressupondo a existência desta opinião “mediana”. Os indicadores amplamente conhecidos de desemprego e de violência atuais demonstram o frágil equilíbrio de nossa sociedade e os resultados da avaliação do MEC indicam nossa baixa escolaridade. Sendo assim, que opinião válida podem fornecer as pessoal consultadas sobre a atividade política, por exemplo, ou a atividade em torno do Estado? Em pesquisa, porém, as pessoas perguntadas responderão. Essa resposta será válida, como quer a mídia?
O que se faz necessário ter em mente é que a mídia e sua “opinião pública” não dispõem constitucionalmente de qualquer Poder, não tendo absolutamente um peso real sobre o Estado democrático. O que é importante realçar é que não podemos deslocar para a mídia as discussões e decisões políticas, pois não é essa sua especialidade. Apesar da mídia ter um pólo dito “cultural”, ela possui também um pólo “comercial” que na verdade é muito mais importante que o primeiro (este sempre se curva a suas exigências, dada a natureza comercial da atividade). Daí a preocupação da mídia em “nivelar por baixo” os textos que serão divulgados na imprensa (simplificando, agregando, encurtando mensagens).
Aqui no Brasil, em razão dos sérios problemas sociais, é completamente inadequado o “nivelamento por baixo” da discussão política levada pela mídia. A autonomia do campo político deveria ser mantida a salvo de ingerências descompromissadas com o interesse público (o bem comum). Não se quer sonegar informações, mas evitar que o interesse de empresas comerciais que visam unicamente o ganho financeiro se introduzam ou ditem a pauta e o nível das discussões internas relacionadas à condução do poder público.

retirado do texto:
"Direito e Mídia:uma incompatibilidade radical" de Álvaro Filipe Oxley da Rocha e
"A Opinião Pública não existe" de Pierre Bourtdieu.

Um comentário:

UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA - AL disse...

Saudações camaradas!

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UJC-Al